vendredi 31 décembre 2010

Antes do renascer...


Cada ano que passa é um ano que passa (esta evidência MERECIA ser enunciada!). Cheio de momentos carregados das emoções mais diversas, da alegria à tristeza, do desespero à felicidade extrema, da resignação ao combate, da contemplação à acção...

2010 não foi diferente dos precedentes. Um pouco de tudo, passos pequenos e seguros em direcção aquilo que queremos, em que nos queremos tornar. Crescer não é um processo repentino e finito, mas sim lento, longo, demorado e eterno... e só cessamos de aprender e de evoluir aquando do nosso último suspiro. Enquanto aqui estamos, enquanto podemos crescer, enquanto podemos partilhar com os que nos são queridos o bom e o menos bom da vida, devemos ser gratos, e lutar cada dia por um HOJE sorridente e um AMANHÃ melhor... É o próprio do ser humano querer sempre mais; o importante é sabermos que mais queremos, e sobretudo COMO o queremos.

Eu quero mais para mim, para os meus, família, amigos, leitores. Mais da vida, mais de tudo de bom que ela possa oferecer. Mas para isso, acho que me devo comportar de modo a criar círculos virtuosos, promovendo à minha volta tolerância, empatia, solidariedade, amor ao próximo, e todo um leque de "mariquices" que hoje em dia são consideradas obsoletas mas que para mim devem ser a base do nosso comportamento. São os meus VALORES. Erro muito, peco muito, falho muito. Peço perdão por isso, e ajuda a todo e qualquer um que me possa auxiliar a tornar-me um Homem melhor. Estou no princípio do caminho. Ou talvez não tão no princípio. Mas ainda preciso de aprender MUITO!

Agradeço desde já as inúmeras pessoas que contribuíram para fazer do ano findo aquilo que ele foi; agradeço aos que me encorajaram, aos que me desestabilizaram, aos que me apedrejaram e quiseram ver cair, aos que me levantaram quando disso precisei; agradeço aos que erraram de boa fé, aos que erraram de má fé, aos que me mostraram o caminho, aos que não me deixaram no chão quando nele me viram. Agradeço à minha família que me amou, acarinhou, suportou, aos meus amigos, novos e velhos, que me aconselharam, ajudaram a espairecer e a ver a vida com outros olhos, sob outro prisma. E sobretudo, aos meus leitores, que com paciência acompanharam, leram, comentaram os meus devaneios ao longo das linhas. Vocês são também essenciais ao meu equilíbrio.


Que 2011 vos traga muito mais do que aquilo que almejam, e que ao nascer do dia de amanhã, comece uma nova etapa, um novo desafio de 365 dias renováveis daqui a exactamente um ano!

BOAS ENTRADAS, TUDO DE BOM PARA TODOS NÓS!


mardi 14 décembre 2010

Lusofonia: expliquem me lá como se eu tivesse 4 anos...

- Mas afinal o que é essa história de lusofonia? É o facto de falarmos português, é? Todo aquele que fala português é lusófono, é isso?

- Pode ser. É o ponto de partida. Mas acho que a lusofonia é antes de tudo, um processo histórico e vivo, que começou aquando das expedições marítimas portuguesas, e desde então, não tem parado de evoluir. Não contentes de levarem os seus negócios, os portugueses levaram por Oceanos fora, aquilo que define um povo: a sua língua, os seus costumes, a sua cultura.

- Peraí... Então tás ma dizer que a tal lusofonia que tem vindo a ser promovida não passa da continuação do colonialismo português? Da imposição e permanência da cultura destes aos povos que colonizaram??

- Não! Eu disse que foi um ponto de partida. É inegável que, se hoje se fala português em terras tão longínquas como o Brasil, Macau, Angola, Moçambique, etc... é porque houve esse processo de Descobrimentos, comércio, colonização. Tudo isso marcou perduravelmente os destinos de todos os povos envolvidos, quer sejam os portugueses, quer sejam os autóctones que eles encontraram em cada porto. Mas hoje, a Lusofonia é mais uma mistura, uma miscelânea de tudo o que constitui a(s) cultura(s) desses povos. Todos eles enriqueceram a lusofonia com palavras, sons, sabores, cores, visões, modos de pensar e de viver. A Lusofonia é uma obra em constante evolução, é pôr à mesma mesa pastel de bacalhau e cachupa, regado com maruvo ou vinho verde, ao ritmo de um semba ou duma marrabenta; é estabelecer um acordo ortográfico pra melhor o desacordar, é viajar até Goa com o Camões, andar descalço no Moçambique Sonâmbulo de Mia Couto, rever o Makulusu na prosa do Luandino Vieira, ver a areia vermelha que se levanta a cada correria pelos musseques de Luanda; é combater com a determinação de Amílcar Cabral, é curtir a nonchalante morabeza cabo verdiana ao som dum batuco animado; é atravessar o Atlântico e reencontrar em Salvador da Bahia a ginga africana, os sabores do mufete agrementado de especiarias da Amazónia, os mil palacetes de fachadas coloridas e igrejas rococó que ornam a paisagem de Lisboa, menina e moça em constante reinvenção...

- Fala sério? Lusofonia é ISSO TUDO?

- Não, meu amigo, a Lusofonia não é só isso! A lusofonia és tu, que ao quereres saber, alargas a definição, incluindo as tuas sensações, memórias, experiências, emoções... E cada pessoa que se interessar, falar, se interrogar sobre os limites e fronteiras da Lusofonia, estará apenas a ampliá-la, a provar quão infinita ela é. Se a Língua Portuguesa é uma Pátria como escreveu Fernando Pessoa, a nossa Pátria comum, a Lusofonia é a sua História. E por definição, a História está em curso, continua a ser escrita hoje, aqui, agora.

Que tal escrevermos uma linha também?

email: geral@conexaolusofona.org

lundi 6 décembre 2010

Perigo voador bem identificado?


-"EPA! O avião da TAAG voltou pra Lisboa pouco tempo depois de ter descolado! Parece que estavam a cair peças, o mambo tava mesmo mal!"
-"Mas qual é o avião? assim é um katuko-tuko de 1900 e wawé, né?"
-"Nada, é mesmo o 777 novinho, o único da TAAG q pode voar pra Europa!"
-"AH! Então isso foi maka de manutenção, a TAAG mesmo num tá nem aí pra esses mambos! É só chegar, descarregar, recarregar e tá voar!"
-"Mas parece que a manutenção do avião da TAAG que vai pra Europa é feita por uma empresa portuguesa..."
-"Ah! Mano, num sei... mas de qualquer maneira, a TAAG tá sempre a dar bandeira! Se num é nos atrasos é nos preços, ou fazem overbooking depois as pessoas num viajam... nem vamos falar do serviço a bordo... uma vergonha! Sério, mano... Eu mesmo NÃO VIAJO NA TAAG! Num tou pra me sujeitar a isso! Único vôo que o check in abre tipo 5 horas antes da hora, e mesmo assim tens que tar lá a lutar... e dentro do tal avião o pessoal num quer saber de ti pra nada! Aquelas "aerovelhas" parece que tão ta fazer um favor a falar contigo!... Nada, vou mesmo na TAP ali mesmo tá fodido!"
-"Inda por cima se agora até risco de vida corremos, tasse mal! Aquilo são caixões voadores!"


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Conversas como esta aconteceram e acontecerão ainda mais nos próximos dias, já que hoje de manhã o avião da TAAG teve o problema que teve, e foi forçado a voltar pro aeroporto de onde saíra minutos atrás... Não se sabe ao certo o que originou tal problema, apenas que os investigadores da Agência Internacional de Aviação Civil estão em cima do problema. Antes de tirarmos as nossas ilações com base em rumores e especulações, vamos agradecer, especialmente quem tinha um parente, familiar ou amigo dentro daquela aeronave. Agradecer que estejam todos vivos e sãos. E esperar pelos resultados das investigações antes de tirar ilações. Não esquecendo porém que TODAS as companhias aéreas estão sujeitas a problemas com os seus aviões, independentemente do País de origem. E vale mais que se detecte antes do drama do que esperar que ele aconteça pra depois atirar culpas. Havemos de voltar a este tema.

jeudi 25 novembre 2010

Mo Povo Luta... hoje contra si próprio!


Não, não vou falar do Leggezin Fin, rapper angolano que está nos States a fazer música com o RZA, dos Wu Tang Clan, cujo título do single inspirou o deste post. Isso será o objecto de um próximo texto. Tou aqui pra falar mesmo da luta do meu povo pela dignidade, pelo reconhecimento, pelo respeito. Um povo sofrido e sacrificado, que por causa da guerra se deslocou, se desenraizou, se perdeu na luta pela sobrevivência. Hoje, já em Paz, está na hora de reconstruir o País, de sarar as feridas, de regenerar o Povo e o sentido de quem nós somos.

Nesse contexto, todos os vectores de comunicação devem ser postos à disposição "do Povo pelo Povo", ou no caso, pelos representantes do Povo. Angola é um País com mais de 50% da sua população analfabeta. Cabe pois aos órgãos de comunicação e difusão massiva levar a cabo uma missão de educação, de informação, de auxílio aos poderes públicos, afim de serem utilizados como ferramentas neste combate. Mas é com grande pesar que constato que, ao invés disso, a televisão e a rádio servem para a difusão do que de pior existe.

De entretenimento sem qualidade a escassez de verdadeiros programas de sociedade, educativos, que promovam debates e reflexão, nos quais se exponha algo mais que frivolidades, novas danças, festas "faladas", a televisão e a rádio públicas em Angola estão à procura de uma identidade, cedendo às sirenes da globalização para importar conceitos e formatos sem se preocupar com a REAL REALIDADE do País e de quem vê televisão em Angola. Na falta de programas que façam eco aos seus problemas, ao seu quotidiano, o radio-tele-espectador angolano vira-se para a solução da fuga, optando por canais estrangeiros, importando assim ainda mais modas e façanhas que só vêm adulterar e confundir as mentes dos que menos armas têm para descodificar o que vêem.

Um exemplo concreto que me revoltou: "Do Cambuá", do denominado DeGala, representante mais recente do que de pior se faz no mundo do kuduro no Marçal. Quem é o angolano que não conhece hoje esta triste música e a sua ainda mais infame dança? Segundo o "cantor", é a música que tá tocar mais, "tá tocar tá tocar na rádio mais..." Não tenho nada contra o kuduro, é um divertimento como outro qualquer, e até há alguns de que gosto, por serem engraçados, por terem uma letra retratando situações caricatas, terem um ritmo apelativo, e uma energia característica da música angolana... Não sou apologista de dizer que os kuduristas são os legítimos representantes da cultura angolana actual. Tenho que reconhecer que representam uma fracção da população, representam um movimento nascido nos musseques angolanos e que foi ganhando amplitude até tocar todos os estratos sociais, e por conseguinte É CULTURA ANGOLANA, cultura (sub)urbana ou o que for, mas é música feita com base em realidades angolanas. Mas daí a eu me sentir representado por "mostrá tudo, mostrá..." o caminho ainda é longo... Há tempos vi no facebook um vídeo do Paulo Flores a falar à televisão portuguesa aquando da sua recente vinda à capital portuguesa para dois concertos, e tive orgulho de o ouvir falar, expressar-se sobre diferentes temas da actualidade, e disse para mim mesmo: "um artista não pode viver na sua redoma, ele tem que retratar, sublimar, extravasar aquilo que ele vê, sente e fantasia sobre a sociedade, mas de maneira consciente e voluntária." O DeGala, como a maioria dos kuduristas, envergonhar-me-ia se falasse para o microfone de um media estrangeiro, pois poucos são os que fazem mais do que tentar uma macacada que vire moda. Metade não sabe escrever, e 4/5 do resto mal sabe falar seja que língua for, quanto mais ser representante da cultura Angolana!

Não tenho uma visão elitista da arte, apenas acho que certas músicas são arte, outras são obras de um infeliz concurso de circunstâncias. Do Cambuá pertence à segunda categoria, inegavelmente!

Do Cambuá é uma música com letra que não faz sentido, com uma dança promíscua e degradante para quem a pratica como para quem vê E aprecia, e no entanto é a grande febre que se apoderou das ondas radiofónicas e televisivas angolanas. POR FAVOR!!!!!
Não que seja um exemplo isolado no mundo, se pensarmos bem, a mapuka, dança da Côte d'Ivoire, também se assemelha a esta, assim como certas maneiras de dançar ragga (alguém se lembra dos clips da Patra que só passavam TAAAAAAAAAARDE de madrugada, na Mtv?); mas não é porque o fenómeno existe noutros sítios que o devemos encarar como "normal", ele é apenas sintomático da forma como as sociedades que geram tais fenómenos lidam com assuntos sérios como a dignidade, o respeito pelo corpo, pela mulher, a libertinagem e os valores morais essenciais. Uma sociedade onde "do Cambuá" é considerado NORMAL, é uma sociedade doente, uma sociedade que confunde dança e fornicação, uma sociedade onde a sensualidade é posta de parte em benefício da bestialidade.

Como é que podemos ver tamanha baixeza na nossa televisão a hora de grande escuta e não ficar revoltados? Com uma população que adere ao que vê na televisão à velocidade da Luz, esta não lhe propõe descobrir livros, melhorar o seu nível de cultura, de linguagem, de gramática... NÃO! Em vez disso vamos pôr as nossas meninas de calções curtos, mãos no chão e cú pro ar, vamos dar do Cambuá, porque é essa realidade que se quer para uma determinada camada da população. Pra quê educar a população dos musseques, pra quê dar-lhes ferramentas pra exigirem mais, pra quererem aceder àquilo que NÓS temos, tendo assim que vir a partilhá-lo com eles? Não! fiquem onde estão que estão muito bem!

Pão e Circo? QUAL QUÊ! BIRRA E CIRCO, isso sim! Muita kapuka, muito kimbombo pra regar as frustrações, e vamos lá esquecer os problemas do dia com um do Cambuá... é muito engraçado vermos as filhas dos outros nessa postura indecente, até vermos as nossas próprias filhas a quererem seguir esses infelizes exemplos, pois parece tão normal para todo o mundo que elas não vêem mal nenhum, inocentes que são...

"Há muita coisa difícil nessa vida pra fazêre... mas a dança do Cambuá é tão fácil..." Fiquemos então pela facilidade, Angola. É a história da cigarra e da formiga. Dancemos sem saber porque dançamos, o que dançamos, preocupemo-nos só com o bem que nos faz dançar hoje. As consequências serão bem piores do que foram pra coitada da cigarra...

"Bebi pra afogar as mágoas, mas elas aprenderam a nadar..."
Filipe "Ruff" Cardoso


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P.S.: a televisão brasileira, que tem fama de veicular todos os vícios e perversões, cachaça Carnaval e mulheres nuas, tem este tipo de spots educativos, lúdicos e fáceis de apr(e)ender. Pode parecer pouco, mas se nós tivessemos esse pouco, já seria muito e mais do que aquilo que nos propõe a nossa televisão nacional. AH! Este spot é da Globo, televisão privada...

mercredi 24 novembre 2010

o Poeta Fridolin aka Lil' Tamoda

"Eu gosto de rap por causa dos perfumes que subjazem lá no útero do rap; gosto desses movimentos que cantam o rap como uma forma de afirmação, uma forma de repudiar determinadas formas anti sociais que surgem dento de determinadas sociedades(...). Mas para mim o mais importante é aquilo que está lá na gema mais concêntrica, na matriz mais interior do próprio rap. é isso que me atrai nessa vertente."

ME MATASTE, BROTHER!!!!!!!!!!!!

lundi 15 novembre 2010

21 Questões





É meu hábito desde que "blogo" fazer de vez em quando um artigo "21 Questions", inspirado das "20 Questions" que fecham habitualmente a revista VIBE. As minhas são 21, mas o princípio é o mesmo: assuntos que me interpelaram, divertiram, chocaram, nos mais variados temas, do mais sério ao mais ligeiro, uma divagação do meu espírito sobre coisas vistas, vividas, constatadas... Ora aqui vai o meu primeiro "21 Questões":



21- Aniversário de Independência, 35 anos, e calha quinta feira. Resultado: tolerância de ponto quarta à tarde, ponte sexta, fim de semana de 4 dias e meio para Angola festejar condignamente o seu dia Nacional. Pergunta: qual a taxa de absentismo nesta manhã de segunda?

20- Continuando nas comemorações do 35º, disse me um passarinho que as festas "privadas" durante o fim de semana prolongado em Luanda estavam a custar a módica soma de 15000 Kwanzas/pessoa (+/- $150). ESTAMOS A PERDER A NOÇÃO DO VALOR REAL DO DINHEIRO, não???? Não, né?... Já está perdida há algum tempo... num sei onde ando com a cabeça...

19- Por causa de uma alegada transacção suspeita (meros 50 milhões de dólares em benefício de uma conta privada! foi isso também que assustou os camones??), as contas da Embaixada de Angola em Washington (assim como as de 36 outras missões diplomáticas radicadas nos Estados Unidos, cada uma com as suas razões específicas que desconheço) foram encerradas pelos bancos americanos... Assim nos States num deram festa da Independência???????????? WINDECK!!!!!!!!!!

18- Como nem tudo é festa e alegria na vida, a semana passada houve uma manifestação de angolanos em Londres para pedir que justiça seja feita no esclarecimento das circunstâncias que levaram à morte do nosso concidadão Jimmy Mubenga aquando do seu repatriamento pelas autoridades inglesas. Porquê que o silêncio dos media se fez ouvir de maneira tão sonora?

17- Aquando da vitória de Angola no último Afrobasket, Vitorino Cunha, ex-treinador nacional que dispensa apresentação (levou a selecção de basket aos Jogos Olímpicos de 1992) afirmou que a hegemonia angolana no basket africano estava mais ameaçada do que nunca, pois as estruturas de captação de talentos, de formação, e a valorização dos quadros nacionais a todos os níveis estavam em declínio. Aparentemente, é válido para o desporto nacional de modo geral. Alguém está a fazer algo por isso? FEDERAÇÕES, é só pagar milhões a estrangeiros (já que os angolanos não têm direito a somas avultadas), e os resultados, NADA?



16- Manute Bol. Dikembe Mutombo. Didier Mbenga. DeSagana Diop. Serge Ibaka. Todos jogadores de basket africanos que evoluiram ou evoluem actualmente na NBA. Angola, com a hegemonia que tem sobre o basket continental, nunca conseguiu fazer integrar UM jogador no círculo dessa Elite NBA. PORQUE SERÁ???

15- Alguém tem notícias de um seleccionador para a Equipa Nacional de futebol? Não, porque, sem querer avançar-me muito, acho que mais cedo ou mais tarde, vamos ter que parar de brincar de malucos, se quisermos dizer que existe futebol em Angola, não?...

14- A partir de 2012, uma fábrica da Mercedes vai funcionar em Angola, na ZEE de Viana. Numa primeira fase, vão fazer camiões e autocarros... Daqui a quanto tempo é que vamos começar a ter SLK made in Angola?

13-.......................................................................................................................................................? (questão reservada ao comentário sobre a recente entrevista do jornalista Rafael Marques à TSF, Lisboa. Como 13 é um número que para os supersticiosos dá azar...)


12- Para quem vive fora de Angola, existe a TPA Internacional para manter um laço de proximidade com a terra, ter notícias ao quotidiano, seguir o que se passa. Mas com TANTO programa musical e de entretenimento (jovem mania, revista musical, alto nível, sempre a subir, tchilar, flash, hora quente, sexolândia... ) para apenas dois de debates onde se discutem temas de sociedade com alguma seriedade e rigor informativo (...) que são "Janela Aberta" e "A Grande Entrevista", será que a Diáspora tem uma visão suficientemente abrangente do que se passa HOJE em Angola, dos reais desafios que enfrenta o País?

11- E mesmo que a cultura seja necessária e útil e bem-vinda em qualquer sociedade, porquê que nos programas acima citados não se deu a DEVIDA COBERTURA a eventos de vulto que decorreram e decorrem em Angola, como o Luanda Jazz Festival ou a Trienal de Luanda? Será que a cultura hoje reduz-se ao Kuduro?



10- Massalo, jovem fotógrafo angolano, lançou em Setembro um livro de fotografias de nus artísticos a preto e branco, enaltecendo a beleza da mulher angolana. Dos shoots à edição e à pós produção, 100% MADE IN ANGOLA. Alguém duvida ainda que com vontade, se pode fazer TUDO no nosso País?

Angola está na blogosfera. Não, não é uma questão.

08- Serei o único curioso em ver o tão publicitado, falado, promovido filme de Mário Bastos, "Alambamento"? Quando é que ele estará terminado e nas salas?



07- Almir Agria, reputado locutor de rádio e apresentador televisivo da nossa urbe, depois de uma tentativa falhada de incursão no vídeo amador para adultos, desapareceu da circulação. A família da menina que aparece no filme com ele intentou-lhe um processo por violação (!!!!!!!!!!!!!!) e difamação, mas as autoridades desconhecem o seu paradeiro para lhe fazer chegar a notificação do tribunal... Avilo, aplicaste uma Bin Laden ou quié? Sai lá da gruta, pá!Assume o teu barulho!

06- Quantos de vós, concidadãos, compatriotas, tem em sua posse, leu ou percorreu a Constituição que entrou em vigor no princípio do ano? Não que tenhamos todos que a conhecer de cor, mas por vezes é salutar compreender o funcionamento das instituições que regem a sociedade, e nós temos a sorte de as ter novinhas em folha, de assistirmos ao seu nascimento...(Ei-la: http://www.comissaoconstitucional.ao/pdfs/constituicao-da-republica-de-angola.pdf)



05- Há alguns anos que se vem falando nesse projecto, até que caiu no esquecimento. O Troufa Real* tem lá as pancadas que tiver, mas em alguns assuntos sabe o que diz; ele fez há alguns anos proposta de criação de uma nova capital para Angola, já que, segundo as suas palavras, "Luanda é um barril de pólvora prestes a explodir". Hoje mais do que nunca dá-se-lhe razão quanto à sua análise da situação, mas... ficamos mesmo por aí?

04- Ladjum, Windeck, do Cambuá, Prakatumba... O kuduro estará a criar uma língua própria à sua corrente musical?

03- As revistas portuguesas, com especial destaque para a Visão e a Sábado, têm tido o (mau) hábito de fazer dossiers especiais sobre Angola, o quanto gastam os angolanos em Portugal, o quanto Angola é o novo El Dorado para os investidores ou aventureiros portugueses... Não que seja em si errado noticiar factos, analisar situações que estão em pleno na actualidade; mas todos os dois números de cada há um artigo do género, nem sempre bem documentado ou argumentado. Não será uma forma pouco subtil de condicionar a opinião pública portuguesa em relação aos angolanos? Veicular a ideia de que somos todos ricos, que lá apanha-se diamantes na rua e se fica milionário em 6 meses parece-me tão nefasto para os angolanos a viver em Portugal e que enfrentam as mesmas dificuldades que os demais, como para os portugueses que, esperançosos e fugindo a crise, se lançam rumo a Angola sem ter noção da realidade que vão encontrar...



02- Porquê que, mesmo depois de MUITO TEMPO DE ESCUTA PROLONGADA E REPETIDA, eu não me canso do álbum "Nós os do Conjunto"? E porquê que ele ainda não chegou a Portugal??????



01- Se é dreda ser angolano, deve ser ainda mais dreda ver o "Mambo Tipo Documentário" que retrata essa "dredice", não? À venda onde se encontrar...

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*José Troufa Real, arquitecto português, antigo professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, foi director do plano de urbanização de Luanda em 1973, e foi até hoje o único indivíduo que se saiba que tentou apresentar junto da UNESCO uma proposta visando a introduzir o património arquitectónico de Luanda na lista de obras a proteger, numa tentativa de evitar "um crime que está a ser cometido diariamente e que tem que ser travado": a destruição do dito património e a descaracterização da capital angolana.

vendredi 12 novembre 2010

Só pra não passar em branco...

Ontem foi o aniversário da Independência de Angola. Vocês, legitimamente se perguntam "então porquê que só escreves sobre isso hoje?" Porque é o que eu acho que se deveria fazer SEMPRE! Essa coisa de agir no fogo da acção, de reagir na hora, no momento, de modo a fazer parte do movimento, do momento histórico... Não é pra todos. Eu acho que, aos 35 anos (de Angola, não meus), devemos ser capazes de analisar as coisas com um certo recuo, e não só como crianças entusiastas e sonhadoras.

O que são 35 anos, na História? Concretamente? De maneira prática? A título de comparação, é o tempo que separa o fim da Segunda Guerra Mundial da Eleição de Ronald Reagan à Presidência dos Estados Unidos da América; é mais tempo (+ 2 anos) do que o que Alexandre o Grande ou Jesus Cristo passaram sobre a face da Terra; é o limite abaixo do qual se pode falar, em termos de esperança de vida, de situação social e sanitária CATASTRÓFICA para um país (era a esperança de vida da França em... 1800!);

35 anos é muito tempo e muito pouco tempo ao mesmo tempo. Depende de muita coisa... Para um País africano que se tornou independente no decorrer do século XX, num contexto interno e externo conturbado, com uma descolonização "complicada", uma guerra interna paralela à guerra contra a potência colonizadora, e que se prolongou até bem depois daquele glorioso 11 de Novembro de 1975... 35 anos para muitos, que viveram o evento nas primeiras linhas, parece que foi ontem. Para aqueles que nesse dia, nessa data, ouviram as palavras do Dr. António Agostinho Neto, proclamando diante de África e do mundo a independência de Angola, estes 35 anos passaram num ápice... Mas ao mesmo tempo, o tempo parece ter passado em câmara lenta para quem viu nesse dia a esperança de uma vida melhor, de uma Angola próspera, de um futuro risonho para si e os seus... E teve a infelicidade de ver o País mergulhado numa guerra fratricida, que tanta energia e vidas humanas tolheu durante tanto tempo...

Angola NUNCA PAROU. Esta é uma grande verdade. Com guerra ou sem ela, o País, o Povo, verdadeiro herói colectivo, silencioso e anónimo, continuou sempre a lutar. Pela sobrevivência. Pelo sustento. Pela dignidade. Nas condições difíceis impostas por um contexto que ultrapassava DE LONGE Angola e os angolanos. Guerra fria, interesses estratégicos, alianças múltiplas, dúbias mas necessárias para manter a soberania. Machiavel teria dito que o que importa é o fim, e o Príncipe deve utilizar os meios à disposição. Foi o que se fez durante muito, muito, muito tempo. até ao dia 22 de Fevereiro de 2002, dia da REAL libertação de Angola. Antes disso, éramos um País preso, independente mas não em Paz, condição sine qua non para qualquer passo verdadeiramente significativo em direcção ao desenvolvimento e progresso. Independentemente das sensibilidades e opiniões políticas de cada um, o dia 22 de Fevereiro de 2002 foi o VERDADEIRO DIA DA INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA. Qualquer balanço sobre "o que foi feito ANTES dessa data será apenas parcial, a guerra sendo um real entrave a qualquer iniciativa, estratégia de desenvolvimento e afins. Angola estava ainda "dependente" do fim da guerra para começar ENFIM a andar pelos próprios pés...

O dia 11 de Novembro de 1975 foi um marco importante, não discuto minimamente. Apenas acho, e desculpe-me quem discordar mas é a minha opinião, que Angola é um País bem mais jovem do que o faz acreditar essa data. 1975 permitiu nos de entrar no concerto das Nações, mas ainda submetidos a restrições e privações inerentes à situação de guerra quase permanente desde 1961.

Angola em condições "normais" para SE DESENVOLVER não começou senão a 22 de Fevereiro. Evidente, mais podia ter sido feito antes, mas águas passadas não movem moinhos... É a partir dessa data que temos o direito e o DEVER de nos mostrar plenamente esperançosos, totalmente implicados e extremamente exigentes, com quem nos dirige e connosco mesmos. Estarmos atentos à evolução das Instituições, ao exercício enfim possível de uma democracia transparente, e perguntarmo-nos que papel podemos ter na manutenção e bom funcionamento do sistema (que temos que, antes de tudo, compreender o melhor possível). Temos, angolanos, a obrigação de, pelo trabalho e pela exemplaridade, criar círculos virtuosos, servir de exemplo uns para os outros, acreditar e fazer acreditar num País próspero, diminuindo as desigualdades e multiplicando as oportunidades... Vamo-nos perguntar o que podemos fazer pelo nosso (jovem) País, e não só o que ele pode fazer por nós. Porque ao fim ao cabo, Angola, somos NÓS!

jeudi 28 octobre 2010

Um sorriso




Neste grande Circo das relações humanas, cada um de nós tem o seu papel. O da socialização é para mim um dos mais interessantes a analisar e a representar.

Sendo um recém chegado a esta cidade de Lisboa, que conheço desde sempre mas aprendo a redescobrir cada dia, frequentar pessoas novas é nada menos do que uma questão de sobrevivência social. Tendo voluntariamente limitado as interacções com pessoas do meu círculo profissional fora do quadro a isso reservado, precisava de um terreno de acção diferente. e foi aquando de uma das minhas já habituais peregrinações ao Bairro Alto que, no meio da multidão anónima, num grupo de amigos de amigos, numa noite de verão tão igual a tantas outras, me deparei com um sorriso. Com O SORRISO. Sorriso franco, sorriso aberto, sorriso verdadeiro, sorriso luminoso... um SORRISO maiúsculo! Daqueles sorrisos que nos põem à vontade, daqueles sorrisos sem malícia de alguém que sorri com gosto. Daqueles sorrisos contagiosos, encantadores, que salvam vidas. UM SORRISO. Um sorriso feminino, mas isso não vem ao caso... Um sorriso cheio de charme, mas não é isso o mais importante... Um sorriso acolhedor, um sorriso sereno, um sorriso como um convite à partilha, um sorriso permanente numa noite fugaz... Um sorriso com o qual eu conversei, de nada em particular, mas fiquei com a impressão de que tudo foi dito num sorriso... As minhas palavras nunca teriam a força, o alcance, a simplicidade, a beleza daquele sorriso. Um sorriso, foi tudo o que foi preciso para me reconciliar com a Humanidade! AFINAL AINDA EXISTEM PESSOAS CAPAZES DE SORRIR ASSIM!!!

Cinco minutos mais tarde perdia eu o sorriso de vista, afogado no movimento incessante da multidão no labirinto do Bairro. Avançávamos para o próximo bar, para o próximo grupo de amigos de amigos, para a próxima aventura, para o próximo encontro no próximo canto da próxima rua... Ficou porém em mim a convicção de que esse sorriso salvou algo em mim, restabeleceu em mim a fé vacilante nas coisas simples da vida, e na importância que elas podem ter para nos fazer avançar. E como tenho consciência do carácter aleatório e fugaz de um encontro dessa natureza, não pude deixar de agradecer ao sorriso por se ter estampado naquele rosto, naquele momento, naquela noite de verão que ele participou grandemente a iluminar...



"Meu sorriso é um teste à resistência
um exercício de paciência
neste ensaio da sobrevivência"

Keita Mayanda, in "Sorriso Angolano", do álbum "Nós os do Conjunto"

mardi 28 septembre 2010

Pol(itic) Fiction: A Exoneração

Em certo País Africano, numa morna segunda-feira de manhã...

As duas secretárias agitam-se assim que a porta abre de rompante, de modo a simular actividade. Levantam-se à passagem do chefe e lançam em uníssono um sorridente "Bom dia senhor Ministro!", tendo direito a um grunhido ininteligível como única resposta.

- "Assim então já tá pensar na vida!"
- "Ai não, mana! com a notícia que ele recebeu esse fim de semana, deve andar que nem uma barata tonta! Vais ver que vai sobrar pra nós!"
- "O pior até num é isso; mas quem vai vir no lugar dele? Esse pelo menos é maizumenos, num chateia muito... se vier daqueles que passam o dia a gritar, tamos male!"
- "Isso se num vier já com as «sobrinhas» dele e nos mandar pro arquivo! De qualquer modo vai acabar por sobrar pra nós!"
- "HAKA! num tinha pensado nisso... Esse então, que num sabe pra onde vai depois, vão lhe estacionar em casa a ver bonecos... com essa idade num vão lhe dar mais ministério!"
- "Ya... tipo que aqui acabou pra ele e pra nós..."
- "Puta de vida, pá! Até a incompetência deles influencia o pão dos meus filhos! Mana tou cansada... Cansada! tou aqui mesmo, nem sei como. O meu mais novo ficou com a minha mãe, sábado passou o dia cheio de febre. Pensei que fosse paludismo mas num acusou. De sábado pra domingo num dormi nada a cuidar do miúdo."
- "E assim é quiê? O médico falou qual era o problema?"
- "Epa, viu, olhou, analisou, disse paludismo num é. Mas num falou é quiê então. Ia mesmo faltar hoje, mas quando me falaram a notícia chamei a minha mãe pra vir ficar com ele. É que num dá mesmo pra faltar... aqui vão nos decidir a vida hoje!"
- "Mas é mesmo! Isto esta semana vai ser complicado... Eu então também me falaram. Parece que passou no telejornal bué de tempo, a falarem disso, mas lá em casa quem vê TPA?.."
-"Inda num se sabe quando ele vai bazar, né?"
- "Epa, num sei, mas ele hoje num veio trabalhar, acho que veio arrumar a trouxa. Só pode!"
- "Inda num chamou, num sei como. Ele tinha almoço com uns nguetas daquela empresa, hoje... Nem sei se mantém, se não... Se calhar até..."

Abre a porta do gabinete do Ministro, e este sai com as algumas pastas de arquivo na mão. Dirijindo-se para a porta, lança sem olhar para elas:

- "Dona Engrácia, faça o favor de anular o meu almoço de hoje e todas as minhas audiências pro resto do dia. Dona Madalena, só me contacte em caso de extrema urgência, vou estar no Palácio."
- "Sim senhor, Sr. Ministro."
- "Está certo sim, Sr. Ministro."

A porta voltou a bater. O silêncio pesado deixava ouvir nitidamente o zumbido do ar condicionado a precisar de limpeza do filtro. Madalena a mais antiga no gabinete, olhou para sua jovem colega dum ar entendido. O que pensaram e especularam naquela manhã parecia-lhes mais do que confirmado.
- "Tamos fodidas", disse para a colega, enquanto contactava o empresário para anular o almoço.
- "E mal pagas", rematou Engrácia, que se disse que se calhar teria sido melhor ter ficado em casa com o filho doente. Eram 10h33 da manhã, e tirando servir de filtro telefónico contra os mujimbeiros que haviam de querer notícias em primeira mão sobre a "situação", pouco ou nada teria a fazer até ao fim do dia...

lundi 20 septembre 2010

Carta Aberta a Deus


Mo Kota,

Antes de mais, se existes mesmo, peço te desculpa por ter duvidado, e ainda duvidar, de facto. É que a maneira como Tu te manifestaste (segundo as diferentes Santas Escrituras) foi sempre tão teatralizada, e hoje nada... Mas passemos, num é esse o assunto que me traz.

Estes últimos tempos, de casamentos em baptizados, tenho posto os pés em tua casa umas tantas vezes. É caso de dizer, "fui no teu cubico t'encontrei, num estavas!" Sempre que lá me encontrei, ouvi discursos edificantes, bonitos, profundos e cheios de filosofia, de lições, de conselhos para abordar a vida. Isso é muito positivo, e ao ver o fervor das pessoas ao ouvirem as palavras dos Teus mensageiros terrestres, eu disse para comigo que, mesmo se somos todos pecadores, e se alguns dos que lá estavam certamente não aplicavam os Teus preceitos de maneira fiel e cristã, a maioria pelo menos tentava enveredar pela Tua via, e isso dava-lhes alento na vida, uma luz a seguir e uma linha de conduta moral. Isso é bom, que haja pessoas que, no contexto actual, de crise de valores, tenham em Ti algo a que se agarrar para se manterem no bom caminho.

Mas esse é o meu problema: apesar de muito pecador, de muito falível e com uma margem de mehoramento ENORME, eu acho que o que eu ouvi na Tua casa é nada mais nada menos do que BOM SENSO, apenas adaptado à visão Cristã do mundo. E eu, do alto dos meus poucos 30 anitos, com a minha pequena experiência de vida, tinha chegado às mesmas conclusões sem necessariamente crer em Ti. Eu tenho o defeito de achar que nenhum de nós é perfeito, mas que todos nós somos perfectíveis, melhoráveis. Experiência de vida, nossa e dos outros, deve servir de base para analisarmos e melhorarmos os nossos comportamentos tanto quanto possível. Eu considero-me profundamente Humanista, no verdadeiro sentido da palavra. Apesar das nossas falhas, dos nossos erros, eu acredito no Ser Humano, e nele reside a chave, a salvação e/ou a destruição.

Todos nós podemos adquirir desde pequenos a noção do Bem e do Mal, do Certo e do Errado, e desculpa que te diga, mas Tu não tens o monopólio destas noções, kota. Eu posso perfeitamente basear o meu comportamento nas ideias de amor ao próximo, de solidariedade, de compaixão, de humildade sem que elas me venham de Ti ou de uma das múltiplas religiões (que ao fim ao cabo vão todas dar no mesmo, com diferenças culturais, contextuais e geográficas), e isso não faz dos meus valores menos importantes ou menos dignos de respeito. Ainda este domingo, aquando de um baptizado, um dos pastores disse, com algumas variantes, aquilo que eu tinha dito à minha Mãe na noite anterior: devemos responder a quem nos deseja mal com silêncio, levando as nossas vidas avante, sem nos preocuparmos com o que pensam, dizem ou fazem os outros para nos ferir. Respondendo, estamos apenas a dar-lhes munições para continuarem. Vivamos, em acordo com as nossas consciências, e tentemos colher os frutos das nossas boas acções. A pequena diferença é que, pra mim, as recompensas pelo bem que fazemos são consequências directas das nossas acções, enquanto que para os cristãos, é uma recompensa divina. Se alguém tiver boa nota num exame, o que terá sido mais determinante: o esforço que ele fez para estudar, aprender, assimilar a matéria do exame, ou a oração fervente que precedeu a dita prova? Se alguém de muito cristão, temente a Deus, morre de doença, foi a vontade de Deus, mas se for um ateu, morreu por causa de bruxaria, ou por não ser crente? A lógica desse sistema de explicação do mundo que nos rodeia escapa-me, aliás de lógica nada me parece ter...

Eu estou em crer (e comigo alguns historiadores idóneos) que a criação de divindades superiores por parte do homem primitivo surgiu da necessidade de dar uma explicação "satisfatória" a fenómenos que escapavam às suas "luzes" na altura. Isto aconteceu em toda a parte do planeta, e daí surgem diferentes mitologias e crenças por toda a parte, desde os deuses Incas, Gregos, Romanos, Indianos, às divindades Animistas em África, ao Deus das religiões monoteístas. Tu. Jeovah, Allah, Deus, pouco importa. O que aproxima as religiões monoteístas umas das outras é partilharem uma história comum, terem um ponto de partida comum - o que torna ainda mais incompreensíveis as desavenças e oposições violentas entre elas durante séculos, pois estão todos a falar da mesma coisa, mas cada um acha que a sua maneira de ver é A VERDADE! Aquilo a que hoje chamamos a Mitologia Grega era no entanto uma religião, os Deuses do Olimpo eram objecto de culto e adoração como o são hoje Deus (Tu) e Jesus Cristo, Teu filho. O que fez com que eles tenham passado de Deuses a Mitos, criados para explicar os segredos da Natureza (que hoje a ciência desvendou em grande parte, mesmo se muito resta por saber, e ainda bem!), que tenham perdido a mística para se tornarem Contos Filosóficos e nada mais, enquanto as monoteístas insistem em fazer acreditar que o que está nas escrituras foi o que aconteceu, mesmo se vai de encontro a séculos de descobertas científicas? Será que nos esquecemos que a Igreja Católica Romana foi recuperada, organizada e dogmatizada pelos Imperadores Romanos que pouco tempo antes adoravam Júpiter, Juno, Baco, etc.? Que esta Igreja ganhou força graças à imposição militar dos Romanos, e só assim se espalhou e substituiu gradualmente às religiões e crenças locais existentes noutros pontos da Europa? Será que alguém se lembra que, até a chegada dos Europeus a África, à América e ao Extremo Oriente nos séculos XV e XVI, nunca nesses continentes se tinha ouvido falar de Jesus Cristo, dum Deus único ou da Bíblia Sagrada? O que será que tornou esta religião DOMINANTE em continentes cujas populações passaram milénios sem conhecer Tua a existência (tirando a potência militar do Império Romano que a impôs na Europa, que depois a impôs no resto do mundo)? Terás tu abandonado estes Teus filhos (já que supostamente o somos todos, mesmo os que em ti não creem) a práticas condenáveis segundo o teu livro, a cultos pagãos que lhes impediam acesso ao Teu Paraiso durante MILÉNIOS???? Porquê? se Somos todos teus filhos? porque tiveram os povos da Mesopotâmia e da Europa o privilégio de te conhecer tantos anos antes do resto do mundo?

Eu admito que não tenho resposta a tudo como Tu, nem queria ter. Apenas me pergunto porquê que os teus seguidores me parecem ter tão poucas questões, quando eu tenho tantas, TANTAS, e tão simples... Eu não quero saber o que há depois da morte, nem se há paraíso ou inferno, nem qual a verdadeira origem da terra, da vida, do Homem, etc. Eu pergunto-me apenas como se pode querer que eu acredite piamente na Bíblia, não como um livro de ensinamentos filosóficos (nesse prisma, eu reconheço que há muita lição a ser tirada dela, assim como de toda outra religião), mas como um testemunho fidedigno do que se passou, quando os Evangelhos foram transmitidos oralmente durante dezenas de anos antes de serem escritos, e mesmo dentro dos que foram escritos, houve uma selecção, deixando-se de lado aqueles que não interessavam à Igreja, pois iam de encontro à origem Divina de Jesus, por exemplo... Se é algo que foi deformado de boca a orelha durante séculos, que foi adulterado (ou pelo menos limitado segundo conveniências), cortado e compilado por HOMENS, tão falíveis quanto eu, como posso acreditar que aquela Bíblia é a Tua palavra, TODA a Tua palavra? Deus, onde quer que estejas, eu não espero que tu me dês respostas, apenas que compreendas um pouco o sentido das minhas perguntas, e a razão do meu AGNOSTICISMO, que não é uma negação pura e simples da tua existência, como o ATEÍSMO, mas a minha maneira de dizer que, existas ou não, eu tenho, quero e vou continuar a tentar a viver uma vida de Bem, e que o facto de não crer em ti não quer dizer que eu afirme a tua inexistência. Apenas proclamo aqui a minha magna ignorância em relação a este assunto em particular, mas também a necessidade, para a humanidade, na minha humilde opinião, de começar a acreditar nela própria, e na sua capacidade de fazer o BEM ao seu próximo, de criar ciclos de virtude, e não apenas ciclos de vício, de maldade.

Eu tenho mais ou menos a crença, baseada na lógica científica demonstrada, de que o mundo vai acabar. Vai sim, o Sol, nosso astro de vida, é uma estrela, e como tal, vai morrer, tornando as condições de vida na terra impossíveis para qualquer forma de vida tal como nós as conhecemos.
Mas muito antes de ele se extinguir, o seu avanço inexorável para o fim fá-lo-à atingir temperaturas que nos serão fatais. Isso é pra daqui a alguns milénios. Os que em ti crêem chamarão a isso Apocalipse, e dirão que tu o anunciaste. Para mim, será apenas um ciclo inevitável da vida dos planetas, estrelas e sistemas estrelares. Até lá, é possível que a Humanidade encontre formas de sobrevivência pelo espaço afora, em estações espaciais ou coisa parecida. Mas isso eu já não vou ver. O que me importa, é ser, durante o tempo que cá estou, o melhor possível, aprender com os meus erros, e deixar para a minha filha um mundo onde ela possa viver melhor do que eu vivo/terei vivido, um mundo mais seguro, um mundo mais pacífico, um mundo mais são. Não é forçosamente uma Utopia, basta que cada um tome consciência de que nada somos, apenas um segundo na linha cronológica do planeta, que apenas alugamos o espaço em que evoluímos, que muitos vieram antes de nós, e muitos mais virão depois. Em suma, o Mundo é um Hotel, meu Kota. Se cada um que vier partir tudo o que encontrar no quarto, o seguinte vai encontrá-lo num estado de lástima, e nem vontade terá de o estimar. É a minha visão das coisas. Não sei se és tu o gerente deste Hotel, como diz a Bíblia, e isso no fundo não interessa. O que é preciso é que os utentes do mesmo, nós, aprendamos a tratá-lo com respeito e dignidade. A lidar uns com os outros. A desejar o melhor para todos. Isso não são valores exclusivamente Cristãos, repito. Se Tu, com a tua palavra, mesmo que eu não acredite piamente (isso sou eu, problema meu, né?) conseguires pôr o máximo de pessoas possível nesse caminho, então estás de parabéns. Eu vou tentar à minha maneira, e quando fechar os olhos definitivamente, veremos o que vem depois... ou não!

Meu Kota, o simples facto de eu Te escrever esta carta há de constituir para alguns prova suficiente de que eu Creio em Ti, pois eu não seria louco de escrever uma carta a alguém em cuja existência eu não acredito. Eu não acredito no Deus da Bíblia tal como Ele está descrito, nem no do Corão, nem no da Torah, nem nos Gregos, Romanos, Mayas, Indianos, Africanos ou quaisquer outros. Acredito sim que há um grande segredo cuja solução não é suposta ser conhecida por Nós, humanos. "Deus é a Natureza", como diz Spinoza? O conhecimento do Mundo que nos rodeia dá-nos a base da ética que deve ser a nossa? Não sei. Esta teoria é a que mais se aproxima do que penso, sinto em relação ao "Grande Segredo" que é a vida, a origem do Mundo, etc. Sei que algo há de superior a mim, e se não acredito que tenha consciência, nem influência directa e voluntária nos desígnios da nossa Vida. Mas quanto mais e melhor compreendemos o que se passa à nossa volta, quanto mais sairmos do nosso umbigo pra vermos e analisarmos o que se passa noutras casas, noutros países, noutros continentes, noutras culturas, menos vamos pensar que detemos a verdade absoluta: a meu ver, AÍ COMEÇA A HUMILDADE. O meu caminho ainda é longo, mas tento, todos os dias, como posso, compreender. Essa minha doença de querer compreender. Não para aceitar tudo, mas para ter diferentes pontos de vista, tornar-me mais tolerante, como eu quero que se seja comigo e com os meus. Estive várias vezes em tua casa este verão, não me senti minimamente agredido pela fé das pessoas, pelo contrário, vi muita energia positiva, muita alegria, muita solidariedade entre as pessoas animadas de um fogo comum para vencer a adversidade. Mas por vezes, quando abri a boca para debater sobre o que achava de Ti, da religião, o mais respeitosamente possível, senti condescendência, mesmo por vezes uma certa arrogância (posso estar enganado), como se ELES soubessem tudo e eu fosse um pobre coitado nas trevas. Se calhar sou. Certamente, mesmo. Mas isso não deveria dar a ninguém o direito de se sentir superior a mim, nem aos que não crêem, como eu não me sinto superior por não crer. Eu não busco a verdade absoluta, eu busco antes de tudo a Paz e a compreensão do meu próximo...

Mais Velho, obrigado pelo tempo de antena. Se num existires, num vai haver efeito nenhum pralém de eu ter deixado aqui o meu desabafo; se existires, obrigado pela paciência de me leres, e até um dia, se Deus quiser... oops! se Tu quiseres... Se num quiseres também tasse, s'atiro noutra tumba(!!!) e relaxo!
Que a Paz seja contigo. E já agora partilha um coxe, num fica ambi!

R.

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O tom deste texto não é de todo ofensivo para qualquer credo ou religião que seja. Trata-se apenas de uma forma pessoal e (espero eu) original, diferente de partilhar as minhas questões e opiniões sobre o assunto. Sei que o mesmo é sensível para muitos, pelo que reafirmo aqui o meu respeito pela crença de cada um. Como disse o J. F. Kennedy, «Se não podemos acabar agora com as nossas diferenças, podemos pelo menos fazer um mundo mais seguro para a nossa diversidade. Pois em suma, partilhamos todos um mesmo laço comum: o facto de habitarmos este pequeno planeta. Todos respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro das nossas crianças. E somos todos mortais.»

mercredi 1 septembre 2010

Nijitos,Bairro Alto e noites de Verão...


Foi uma daquelas noites que tinha tudo pra correr bem. Um amigo de França, o T., veio passar uns dias a Lisboa; o primo X. que vive em Luanda estava de passagem, era sexta feira, o caminho era só um...

Encontro marcado com todo o mundo à 1h na praça Camões, e como habitualmente, o P.N. não dá as caras... Primo X. aparece primeiro, sem mais demoras vamos pôr a conversa em dia com um copito na mão. Direcção: SOFT. Um drink na mão, sorriso na cara e uns fellas cumprimentados, o telefone toca. O kamba de Paris chegou à praça Camões. Depois de o apanhar, volta à primeira «crime scene», mais uma rodada e confraternização com a comunidade angolana reunida no local. Uns minutos de conversa e o primo X. reconhece um amigo de infância, J.A. que foi vizinho dele em Luanda, nos tempos. Conversa puxa conversa, forma-se ali um grupinho interessante. O A.N., a R.S. e o seu grupo de amigos não tardam a chegar, seguidos pouco depois pelo A.C.; no espaço de uma hora, aquele segmento particular do Bairro Alto tansformou-se numa rua da cidade de Luanda!




Na conversa, o J.A. diz nos que está a viver na Holanda, e está cá de férias com o amigo DNA, alojados em casa do S.D., que não é mais do que... irmão duma prima minha! Quando o "primo" enfim aparece, ligamos para a mana (às 2h da manhã, ela deve ter gostado...) e levantamos mais um NIJITO* a este encontro fortuito como só Lisboa no verão proporciona!

Facto interessante: naquele pequeno grande grupo, o T. é DJ, o J.A. e o DNA assim como o S.D. são músicos! A conversa girou muito naturalmente em torno deste interesse comum a todos os presentes, entre as carreiras nascentes de uns e as reminiscencias dos 90's, da música que ouvíamos quando eramos putos. Engraçado como, apesar das viagens, migrações, dos múltiplos trajectos de uns e outros, os angolanos da minha geração cresceram "juntos", mesmo cada um no seu canto. Conseguimos manter um grau de proximidade uns com os outros, apesar dos largos anos passados sem nos ver, graças ao tempo passado juntos, mas também ao conjunto de referências comuns, culturais entre outras, que mantivemos ao longo deste período conturbado que foi a passagem de crianças a homens. Um desses elos foi a música, e ali estávamos nós, 25 - 30 anos, alguns pais, alguns casados, a falar de velhos tempos passados juntos, e preenchendo os vazios com a música, que ela, nos acompanhou a todos, todo o tempo.

O fio conductor duma noite bem passada sendo mesmo esse, não tardou muito que tirássemos o pé, em direcção ao OneTwelve. Hip Hop Spot. Depois da palavra, a prática. Sons "dos tempos", um copo na mão, umas fotos pra registar o momento, e lá estávamos nós a caminho do terceiro spot da noite: o Luanda, aka Soul Club, aka Kaombo, aka a discoteca africana (Angolana) de Alcântara, que muda de nome e de decoração mas mantém a mesma equipa à porta, nos bares e na mesa de DJ!

Tri Chu Party, DJ Callas e Malvado, bom pessoal, boa onda, as mulheres mais bonitas de Lisboa (não estão no Lux, ainda não, por enquanto estão mesmo aqui!) and PLAY THAT FUNKY MUSIC MISTA DJ! De euforia em reencontros (mais alguns, de gente perdida de vista há anos, só re-vista na noite), de olhares furtivos em trocas de sorrisos, de danças anónimas em flirts de leve, assim passei uma das melhores noites desde que cheguei a Lisboa há coisa de um ano e meio... Depois disto, os mais corajosos ainda foram ao Lux, às 7h30 da manhã... eu fui pra casa, acho que estou a ficar velho!

Para todos os angolanos que vivem na Europa, e mesmo para alguns que vivem em Angola, Lisboa é como uma rotunda indispensável, um ponto de encontro durante o verão (já que na terra é só em Dezembro) pra se curtir, uma noite agradável, uma companhia sebem e um ritmo boémio, que ajuda a tornar a vida agradável, aceitável, apesar dos outros pesares, malambas, makas e makongos... No verão, como cantou a Sara Tavares, Lisboa Kuia!





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*Nijito (Nigga Mojito) é na verdade uma caipiroska black, que como o seu nome indica, é feita com vodka preta. Dada a cor da referida bebida, pareceu-nos que este nome era mais apropriado, então baptizámo-la assim!

mardi 3 août 2010

A Rehabilitação da Ngonguenha


Ngonguenha: mistura de farinha musseque, açucar e água, que constitui o "lanche do pobre" em Angola.

Eu, como muitos angolanos, vivi partes da minha vida no país, (maiores) partes fora dele. E o que ao longo dos anos me "manteve" angolano, foram pequenos detalhes que para outros são insignificantes, mas não para nós, da banda. Sons, sabores, cores, imagens, odores capazes de nos transportar de volta a um sítio não geográfico, um sítio que nos é muito íntimo, e que só partilhamos com quem nos pode compreender nesse particular. A ngonguenha é um desses sabores. Todo o tempo passado fora, a minha Mãe manteve o laço alimentar com a terra, e não era raro que voltasse da escola em França, e preparasse uma caneca da famosa mistura. Devo admitir que prefiro kifufutila, mistura mais elaborada e trabalhosa (mistura de farinha, açucar e ginguba torrada, mas tudo transformado num finissimo pó, tradicionalmente batido com o pilão, mais modernamente adaptado com a máquina de moer 1-2-3). Mas pronto, dá mais trabalho, era um miminho q a kota nos fazia de quando em vez e que desaparecia em instantes logo que confeccionado...

Ao longo dos meus anos de vivência fora, tive e tenho a oportunidade de constatar que muitos angolanos da minha geração estavam a ter a mesma experiência que eu. Alguns d'entre eles restituiram esta experiência das formas mais variadas: por escrito, como o estou a fazer aqui, mas mais frequentemente através da música. Já não da forma saudosista como o pôde fazer um Teta Lando ou um Bonga em tempos idos, num contexto diferente; mas numa óptica de estabelecer um diálogo entre as diferentes gerações, de repensar a nossa pertença a este país, a este continente que nos deu à luz. Um grande sentimento de pan-africanismo cresceu naturalmente dentro de muitos, que, sem rejeitar a cultura do país que nos acolheu, compreendemos ainda melhor a importância de cultivarmos, incentivarmos, difundirmos e até rehabilitarmos a NOSSA própria cultura. E ao contacto da pop internacional, do hip hop, da house, do rock, foram nascendo híbridos inclassificáveis de músicos angolanos, que têm como elo comum a sua angolanidade. Já falei aqui do colectivo BirraKru, acho que não preciso de falar dos Buraka Som Sistema, o Simmons Massini dispensa apresentação... Mas vou falar do Conjunto Ngonguenha.

Descoberta tardia por minha parte, reconheço, este grupo formado por 4 jovens angolanos da minha geração (Ikonoklasta, Conductor, Keita Mayanda e Grande L), crescidos entre Luanda e Lisboa, tem uma sonoridade única, uma escolha de temas e de formas de abordar os mesmos bastante singulares também. Desde a angolanidade ao conflito de gerações, à hipocrisia reinante em Angola no respeitante aos problemas sociais ou às memórias duma infância angolana bem mais sã do que a que estão a viver as gerações actuais... A nostalgia de tempos idos está presente até na capa do álbum, referência imperdível para quem estudou em Angola nos anos 80-90... Tudo isto com um sentido de humor, um vocabulário, um sotaque, referências culturais e uma atitude típicamente angolanos, o que faz com que a adesão seja quase imediata por parte do público mangope. E como de hábito, a contagião rápidamente se estende aos outros lusófonos. A mistura de ritmos hip hop-afro faz da música deles menos inacessível aos "kotas" do que beats 100% hip hop, o que a meu ver é uma boa maneira de difundir a mensagem do grupo de maneira vertical.

Em suma, o Conjunto Ngonguenha é um grupo inovador e tradicionalista ao mesmo tempo, virados para o futuro com um forte sentido do passado e das raízes. O conjunto é um estado de espírito, é redescobrir algo que afinal damos conta que sempre conhecemos, é ter um olhar de criança sobre assuntos de mais velho, é ver Luanda de dentro e de fora, é sentir-se parte de algo de bem maior que nós, e de que nos orgulhamos todos os dias...

Então, aqui vai o meu agradecimento ao Conjunto por fazer passar a Ngonguenha da caneca opaca ao copo de vidro transparente, dando-lhe visibilidade, rehabilitando a sua dignidade como mata fome que foi e será para muita gente, quer física como espiritualmente...

mercredi 28 juillet 2010

A MAIOR MENTIRA DE TODOS OS TEMPOS...


"Vou estar SEMPRE ao teu lado"; "NUNCA deixarei de te amar"; "poderás SEMPRE contar comigo"; "NUNCA ninguém te amará como eu"; "NADA te mau te acontecerá enquanto eu estiver contigo"; todas estas palavras de reconforto, ditas para nos apaziguar quando eramos crianças, continuam a soar nas nossas cabeças, até depois de adultos. Habituámo-nos a refugiar-nos nelas, a agarrarmo-nos a elas em caso de necessidade, quando nos sentimos perdidos, a naufragar...
À medida que crescemos, apercebemo-nos perfeitamente que estas lindas palavras são mentira; de qualquer modo, nós queremos voar pelas próprias asas, cortar o cordão com quem nos disse tal coisa, até porque fatalmente, eles partirão antes de nós... MAs a nossa maneira de funcionar está tão "viciada" por este esquema, que quando adultos, procuramos a pessoa capaz de cumprir a "promessa" que nos foi feita pelos nossos genitores, transferindo para ela a responsabilidade de ESTAR SEMPRE PRESENTE PARA NÓS - assim foi inventado o AMOR...

Nós próprios cobriremos a pessoa eleita pelo nosso "coração" de afecto, atenção, das melhores intenções, prometendo também estar sempre presentes para ela, como que para "assinar" tácitamente um contrato de ajuda mútua (se acham que estou a exagerar, leiam o contrato de casamento civil, ficarão mais do que elucidados sobre a natureza desta "nobre" união!). Viveremos juntos, cresceremos juntos, fundaremos uma família, teremos filhos (a quem faremos a mesma vã promessa que outros cumprirão ou não...), e criá-los-emos juntos, cultivaremos o nosso jardim juntos, envelheceremos juntos, e morreremos, mais tempo menos tempo, juntos... A MENOS QUE! Uma pedra no caminho, uma rampa íngreme demais, uma curva inesperada, um peigo imprevisto, uma avaliação erronea... e estamos sozinhos de novo! Com a agravante de já ter começado a construir, destruido, e ter que recomeçar do zero...

Após um certo número de vezes nesta brincadeira (como se a saída do Paraíso que é a infância não tivesse sido suficiente), devíamos saber o que nos espera. Como dizem os Outkast: "nothing is for sure, nothing is for certain, nothing lasts forever, but until they close the curtain (...)". Enquanto a cortina não desce, cumprimos o nosso papel nesta imensa representação teatral, como se fosse a estreia a cada vez, com a mesma vontade e convicção! Certamente com mais experiência, com mais prudência, uma visão mais ampla dos problemas, mas o mesmo entusiasmo candido, a mesma entrega total, incondicional... Por mais que nos tentemos proteger, quande REALMENTE queremos acreditar que dessa vez é "pra valer", o nosso comportamento pouco ou nada modifica em relação à primeira vez. Porém, quanto mais avançamos na idade, na experiência, nas decepções, mais nos tornamos hesitantes, frágeis, amedrontados, temendo o próximo fracasso, ao ponto de nos tornarmos cínicos: damo-nos conta que, pouco importam as promessas que nos fizeram os nossos pais quando eramos pequenos, no fim de tudo, acabamos sempre sozinhos...

O Amor é uma maneira peculiar de querer substituir Deus. E fazer-nos acreditar que é possível, que alguém pode cumprir esse papel na nossa vida PARA SEMPRE, é definitivamente a maior e mais cruel mentira que se possa imaginar. E o pior de tudo é que ela é totalmente involuntária...


foto: Jean Ribeiro

mercredi 14 juillet 2010

Noites quentes (?) em Luanda

Amigos, olhem bem para a fotografia. Muitos reconheceram num ápice, sem precisar de pensar muito. Miami, Florida? Bermudas? Ibiza? Marrakech? Não, foram muito longe! Este pequeno paraíso encontra-se no coração da Ilha de Luanda, é o Chill Out, e é uma das discotecas "in" da capital angolana. Como ela há o indestronável Palos, o recente Lounge LXL, onde se começa a noite, o Dom Q, o Lookal... Luanda não tem falta de endereços nocturnos onde os esforços de satisfação da clientela são cada vez mais notáveis. Noites com temas diversos, ambientes musicais variados, uma promoção bastante moderna, decoração que não deixa nada a desejar a muitas discotecas Europeias (em Paris vais pôr aonde discoteca com vista pro mar, com palmeiras e coqueiros, com som puramente da banda e as ondas do atlântico em fundo sonoro?) Depois de muitos anos fora, voltei a Luanda com SEDE de provar a muy falada e badalada noite, e qual não foi a minha decepção... Não tenho nada a dizer sobre o que já referi, a originalidade dos locais, a variedade musical, a riqueza da oferta, a boa selecção à entrada (ya, dum coro, gosto de estar em todos os ambientes, mas os meus preferidos são mesmo aqueles em que, pra qualquer lado onde olhe, vejo bué de pessoas bonitas!).

O que eu deplorei foi a atitude geral dos "festantes"! Em Luanda, a impressão com que eu fiquei, é que se vai à noite pra se pôr a conversa em dia, pra pausar, pra ver e ser visto, pra exibir griffes e biceps... Isso acontece em qualquer parte do mundo, mas a mim fez me confusão ouvir passar MUITO BOA MÚSICA na discoteca e não ver o pessoal a ficar MALUCO! Todos bem pausados, de copo na mão, a bater o ritmo com a cabeça, arriscando de quando em vez uma tarrachinha com o broto consagrado ou com o "flavor of the month". Não sei se eu é que fiquei com alma de puto, mas acho que não, todas as gerações têm este comportamento...

Eu AMO música, ADORO dançar, e acima de tudo DIVERTIR-ME sem me preocupar com o que os outros dizem ou pensam. E em geral, é mais fácil isso acontecer quando TODO O MUNDO está nesse estado de espírito! Mas ali, "getting wild" ao ouvir um som que bate muito, saltitar demais quando passa aquele som de hip hop dos tempos que há séculos num ouvia em discoteca, ficar maluco e dar o toque mais parvo de kuduro que te passar pela cabeça, é arriscar-se a chamar a atenção! Em Luanda dança-se nas calmas, poucos são os grupos de pessoas que ousam sair do modelo dominante, e os que o fazem estão "sa encardir" (ouvi esse termo na noite, a propósito dum rapaz que estava a curtir a sua noite à brava... era quase o único!);

"Vieste na má época, há uns três anos é que esse mambo batia... hoje o pessoal já não sai tanto..." É MENTIRA! LHES ENCONTREI MESMO TODOS NA NOITE! Pessoas que num consegues apanhar durante o dia, vai à noite, estão lá! Casaram, têm filhos, trabalham no dia seguinte, mas isso antes num era factor e continua a não ser. Mas que a atitude não é a mesma, não é!.. Ter a vida organizada não impede que de vez em quando se espaireça, em boa companhia, e se esqueça os problemas da semana...

Eu pude aproveitar o meu relativo anonimato pra "m'encardir" um pouco também, porque eu gosto de sair, dançar, suar e voltar pra casa rebentado! Além do mais, tem que se eliminar os martinis, caipirinhas e vodkas ingeridos, senão volta-se pra casa grosso! Não, em Luanda volta mesmo grosso, mas pausado...
Epa, eu não sou um international jet setter, mas o facto de ter vivido fora e viajado um pouco permitiu me sair um coxe, comparar minimamente, e a conclusão a que eu chego é que a minha noite ideal, seria no Chill Out pelo cenário, com o DJ do Palos (tocou a sério, o rapaz, nessa quinta feira!!!), o pessoal de Luanda, com o estilo de Milão (ali trapam pra caraças!) e com a atitude de Paris: PARTY AND BULLSHIT! Por uma noite, ninguem conhece ninguem, nem marido nem mulher nem mãe nem tio nem patrão de ninguem... todos anónimos com a vontade comum de REBENTAR com a noite! Pausar por pausar, pauso em casa com umas birras, um som, uns grelhados e alguns amigos chegados, não preciso de pagar 30 ou 50 dollares pra ir ver roupas, rabos e copos...

mercredi 26 mai 2010

Mwangolés de Futuro I




Sharam Diniz: ela é, aos 19 anos, a jovem manequim angolana com melhor projecção ao nível internacional. Ela atingiu um patamar que, pelo que sei, nenhuma outra manequim angolana alcançou ainda: foi a representante de Portugal no concurso "SuperModels of the World 2010". Mas apesar de estar lá a defender as cores da sua "outra" pátria, nada de enganos, esta menina é bem uma angolana genuína! Eu que não sou nada virado pro mundo por vezes superficial e cruel da moda, mesmo se reconheço ter uma cultura aceitável nesse domínio (crescer com muitas mulheres à volta faz essas coisas...), acho que ela tem uma presença fotográfica fora do comum. E só o facto de ela dar a conhecer a beleza angolana aos olhos das maiores agências de moda internacionais é de louvar, e razão de muito orgulho! Digo sem medo de exagerar que a Sharam é a angolana mais bonita que eu já vi nos dias da minha vida! E o sorriso dela, apesar de ser um argumento profissional, portanto pressuponho que preparado, treinado, posto em valor de todas as maneiras, é coisa mais encantadora que se possa imaginar! O tipo de sorriso que ilumina uma fotografia, uma sala cheia de gente, uma noite sem lua. Um sorriso cândido e sincero de alguém que gosta do que faz e faz o que gosta, e é simplesmente grata e feliz de o fazer... Um dia, ainda havemos de ver esta menina em palcos grandes, as passerelles da Luanda Fashion Week estão cada vez mais pequenos para a dimensão dela...





Coca o FSM : conheço o colectivo Birrakru há mais de 10 anos, por intermediário de um dos seus "satélites", o meu Kamba PH, alias Ruff, alias Mestre Tartaruga, alias Gato Assassino, alias... (brother, tens muitas identidades, num dá pra por todas, sorry!). A BirraKru desenvolveu-se à maneira do Wu Tang Clan, com produtores, Mcs e cantores espalhados entre Angola e Lisboa, lançando projectos colectivos e individuais. A primeira mixtape que eu ouvi tinha sons que valiam mais pela energia e o entusiasmo do que própriamente pela alta qualidade do produto. Desde então eles não pararam de bumbar. O resultado, para além dos shows, dos EPs, dum princípio de reconhecimento, é o sucesso da canção Imagina Só. Coca o FSM difundiu esta malha no seu mySpace. Um som lounge, soulful, um convite à viagem e à evasão de 5:32 min. O tipo de soundtrack ideal para um fim de semana de relaxe, os pés no mar, o olhar no horizonte, além do pôr do sol... Citado em diversas mixtapes e blogs musicais, Imagina Só é um êxito da música lounge underground, a prova que o trabalho e a vontade de seguir os seus sonhos acabam por compensar! Agora estou à espera de encontrar o single ou o album à venda na fnac. Esse eu não baixo na net, compro mesmo...