mardi 28 septembre 2010

Pol(itic) Fiction: A Exoneração

Em certo País Africano, numa morna segunda-feira de manhã...

As duas secretárias agitam-se assim que a porta abre de rompante, de modo a simular actividade. Levantam-se à passagem do chefe e lançam em uníssono um sorridente "Bom dia senhor Ministro!", tendo direito a um grunhido ininteligível como única resposta.

- "Assim então já tá pensar na vida!"
- "Ai não, mana! com a notícia que ele recebeu esse fim de semana, deve andar que nem uma barata tonta! Vais ver que vai sobrar pra nós!"
- "O pior até num é isso; mas quem vai vir no lugar dele? Esse pelo menos é maizumenos, num chateia muito... se vier daqueles que passam o dia a gritar, tamos male!"
- "Isso se num vier já com as «sobrinhas» dele e nos mandar pro arquivo! De qualquer modo vai acabar por sobrar pra nós!"
- "HAKA! num tinha pensado nisso... Esse então, que num sabe pra onde vai depois, vão lhe estacionar em casa a ver bonecos... com essa idade num vão lhe dar mais ministério!"
- "Ya... tipo que aqui acabou pra ele e pra nós..."
- "Puta de vida, pá! Até a incompetência deles influencia o pão dos meus filhos! Mana tou cansada... Cansada! tou aqui mesmo, nem sei como. O meu mais novo ficou com a minha mãe, sábado passou o dia cheio de febre. Pensei que fosse paludismo mas num acusou. De sábado pra domingo num dormi nada a cuidar do miúdo."
- "E assim é quiê? O médico falou qual era o problema?"
- "Epa, viu, olhou, analisou, disse paludismo num é. Mas num falou é quiê então. Ia mesmo faltar hoje, mas quando me falaram a notícia chamei a minha mãe pra vir ficar com ele. É que num dá mesmo pra faltar... aqui vão nos decidir a vida hoje!"
- "Mas é mesmo! Isto esta semana vai ser complicado... Eu então também me falaram. Parece que passou no telejornal bué de tempo, a falarem disso, mas lá em casa quem vê TPA?.."
-"Inda num se sabe quando ele vai bazar, né?"
- "Epa, num sei, mas ele hoje num veio trabalhar, acho que veio arrumar a trouxa. Só pode!"
- "Inda num chamou, num sei como. Ele tinha almoço com uns nguetas daquela empresa, hoje... Nem sei se mantém, se não... Se calhar até..."

Abre a porta do gabinete do Ministro, e este sai com as algumas pastas de arquivo na mão. Dirijindo-se para a porta, lança sem olhar para elas:

- "Dona Engrácia, faça o favor de anular o meu almoço de hoje e todas as minhas audiências pro resto do dia. Dona Madalena, só me contacte em caso de extrema urgência, vou estar no Palácio."
- "Sim senhor, Sr. Ministro."
- "Está certo sim, Sr. Ministro."

A porta voltou a bater. O silêncio pesado deixava ouvir nitidamente o zumbido do ar condicionado a precisar de limpeza do filtro. Madalena a mais antiga no gabinete, olhou para sua jovem colega dum ar entendido. O que pensaram e especularam naquela manhã parecia-lhes mais do que confirmado.
- "Tamos fodidas", disse para a colega, enquanto contactava o empresário para anular o almoço.
- "E mal pagas", rematou Engrácia, que se disse que se calhar teria sido melhor ter ficado em casa com o filho doente. Eram 10h33 da manhã, e tirando servir de filtro telefónico contra os mujimbeiros que haviam de querer notícias em primeira mão sobre a "situação", pouco ou nada teria a fazer até ao fim do dia...

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