"Vou estar SEMPRE ao teu lado"; "NUNCA deixarei de te amar"; "poderás SEMPRE contar comigo"; "NUNCA ninguém te amará como eu"; "NADA te mau te acontecerá enquanto eu estiver contigo"; todas estas palavras de reconforto, ditas para nos apaziguar quando eramos crianças, continuam a soar nas nossas cabeças, até depois de adultos. Habituámo-nos a refugiar-nos nelas, a agarrarmo-nos a elas em caso de necessidade, quando nos sentimos perdidos, a naufragar...
À medida que crescemos, apercebemo-nos perfeitamente que estas lindas palavras são mentira; de qualquer modo, nós queremos voar pelas próprias asas, cortar o cordão com quem nos disse tal coisa, até porque fatalmente, eles partirão antes de nós... MAs a nossa maneira de funcionar está tão "viciada" por este esquema, que quando adultos, procuramos a pessoa capaz de cumprir a "promessa" que nos foi feita pelos nossos genitores, transferindo para ela a responsabilidade de ESTAR SEMPRE PRESENTE PARA NÓS - assim foi inventado o AMOR...
Nós próprios cobriremos a pessoa eleita pelo nosso "coração" de afecto, atenção, das melhores intenções, prometendo também estar sempre presentes para ela, como que para "assinar" tácitamente um contrato de ajuda mútua (se acham que estou a exagerar, leiam o contrato de casamento civil, ficarão mais do que elucidados sobre a natureza desta "nobre" união!). Viveremos juntos, cresceremos juntos, fundaremos uma família, teremos filhos (a quem faremos a mesma vã promessa que outros cumprirão ou não...), e criá-los-emos juntos, cultivaremos o nosso jardim juntos, envelheceremos juntos, e morreremos, mais tempo menos tempo, juntos... A MENOS QUE! Uma pedra no caminho, uma rampa íngreme demais, uma curva inesperada, um peigo imprevisto, uma avaliação erronea... e estamos sozinhos de novo! Com a agravante de já ter começado a construir, destruido, e ter que recomeçar do zero...
Após um certo número de vezes nesta brincadeira (como se a saída do Paraíso que é a infância não tivesse sido suficiente), devíamos saber o que nos espera. Como dizem os Outkast: "nothing is for sure, nothing is for certain, nothing lasts forever, but until they close the curtain (...)". Enquanto a cortina não desce, cumprimos o nosso papel nesta imensa representação teatral, como se fosse a estreia a cada vez, com a mesma vontade e convicção! Certamente com mais experiência, com mais prudência, uma visão mais ampla dos problemas, mas o mesmo entusiasmo candido, a mesma entrega total, incondicional... Por mais que nos tentemos proteger, quande REALMENTE queremos acreditar que dessa vez é "pra valer", o nosso comportamento pouco ou nada modifica em relação à primeira vez. Porém, quanto mais avançamos na idade, na experiência, nas decepções, mais nos tornamos hesitantes, frágeis, amedrontados, temendo o próximo fracasso, ao ponto de nos tornarmos cínicos: damo-nos conta que, pouco importam as promessas que nos fizeram os nossos pais quando eramos pequenos, no fim de tudo, acabamos sempre sozinhos...
O Amor é uma maneira peculiar de querer substituir Deus. E fazer-nos acreditar que é possível, que alguém pode cumprir esse papel na nossa vida PARA SEMPRE, é definitivamente a maior e mais cruel mentira que se possa imaginar. E o pior de tudo é que ela é totalmente involuntária...
foto: Jean Ribeiro
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