lundi 3 janvier 2011

Sangue no algodão, katana na mão...


"Oh! Pátria nunca mais esqueceremos
Os heróis do 4 de Fevereiro
Oh! Pátria nós saudamos os teus filhos
Tombados pela nossa independência (...)"

Angola Avante, Hino Nacional da República de Angola


Durante o período colonial, Angola era um "país" exportador de café e algodão. Eram mesmo os seus principais recursos naturais, a exploração de petróleo e diamante tendo sido deliberadamente "contida" por Portugal. A região de Malange, rica em solos férteis e de clima ameno, era um dos principais pólos de produção destas duas matérias primas. Diz quem conheceu a bonita província nos anos 50-60 que eram cafezais sem fim, campos de algodão até onde a vista pudesse alcançar... A linha de caminho de ferro Luanda - Malange encarregava-se de escoar a mercadoria até à capital, de onde era exportada para todo o mundo. Na altura, a Cotonang era bem mais poderosa que a Diamang. O peso económico da primeira era incomparável ao da que posteriormente se tornou a Endiama, hoje um dos pilares que sustenta a balança comercial angolana.

Não foi, portanto, de ânimo leve, que os dirigentes da Cotonang em Kassange receberam as reivindicações dos seus trabalhadores, a 3 de Janeiro de 1961. Estes exigiam o fim do trabalho forçado, melhores condições de trabalho, tratamento humano para aqueles que quebravam o dorso na plantação para o enriquecimento alheio. Como resposta, o exército colonial dizimou o que se acredita ter sido mais de 10 000 agricultores, calando assim uma revolta que vinha no pior dos momentos; os clamores de insurreição contra outras potencias coloniais estavam no auge, e a administração acreditava que se não calasse aquele movimento a tempo, a contagião seria depois impossível de evitar. Ao tentar fazer da repressão da Baixa de Kassange um exemplo dissuasivo para outros possíveis "rebeldes", os colonos conseguiram exactamente o contrário. Organizados já em movimentos, partidos, grupos de reflexão dentro e fora do território angolano, os tão temidos "rebeldes" apenas viram nesse acto uma última confirmação de que a solução para o problema de independência e auto-determinação de Angola não seria pacífica. O sacrifício daqueles trabalhadores que pediram um pouco de Humanidade e receberam balas em retorno reforçou a motivação dos combatentes pela Liberdade. Um mês depois, a 4 de Fevereiro, deu-se o assalto à cadeia de São Paulo para libertar os prisioneiros políticos, e este foi o ponto de partida da Luta Armada de Libertação.

Na qualidade de "Jóia do Império Ultramarino Português", Angola não podia DE MANEIRA NENHUMA cair nas mãos dos "indígenas", era uma fonte de rendimento colossal que Portugal não se podia permitir perder. Foi pois "para Angola, rapidamente e em força", que foi mandado o maior contingente militar português; foi pois Angola a ex-colónia portuguesa que pagou o maior tributo em vidas humanas à guerra pela Independência. E se os movimentos já existiam desde os anos 50, foi a partir de 4 de JANEIRO de 1961 que apareceu como inevitável a guerra como meio de alcançar a tão desejada auto-determinação, e o direito de um povo de dispor dos seus desígnios, da sua terra.
O massacre da baixa de Kassange foi o primeiro episódio da última fase da Luta pela Independência das colónias portuguesas. Os heróis do 4 de Fevereiro jamais serão esquecidos. Relembremos também os de 4 de Janeiro...

1 commentaire:

  1. ENDIAMA...COTONANG...DIAMANG...COLONIALISTAS...
    COLONOS...Tudo misturado como numa caldeirada. Neste blog podemos beneficiar de uma grande lição de História de Angola. Vale a pena lêr: Ossos da calonização. Vai de 1 a 9)
    http://psitasideo.blogspot.pt/2009/06/os-ossos-da-colonizacao-1.html

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