jeudi 7 janvier 2010

Identidade Nacional


Em França, o tema faz furor e debate desde a subida de Nicolas Sarkozy ao poder: A identidade Nacional da França e dos franceses. Até foi criado um ministério da Imigração, Integração e Identidade Nacional!!!
Não foi tanto a questão mas a forma e as implicações de tal acto que levantaram protestos. Este Ministério foi encarado pelas diversas comunidades de franceses de origem estrangeira (essencialmente africana e norte africana, as comunidades mais discriminadas em França) como um "filtro" para se identificar os bons e os maus franceses, os "verdadeiros" e os "falsos".

Toda esta polémica veio acaparar a questão principal, que eu me coloco aplicando-a ao meu caso particular, a saber, a Identidade Nacional Angolana. O que é ser Angolano? Quem são os angolanos?
Angola tem uma história rica e complexa, e para compreender quem nós somos, temos que nos debruçar sobre de onde viemos. Angola, o País independente e soberano, existe desde 11 de novembro de 1975. Antes, era Angola, província ultramarina de Portugal. Logo, os Angolanos eram portugueses (ao mesmo título que os madeirenses são Portugueses). Logo, TODOS os indivíduos nascidos em território angolano, brancos, negros ou mestiços, eram Portugueses. Aquando da mudança de estatuto do território de província para País, como e quem procedeu à distinção entre Angolanos e Portugueses? Quais os requisitos para se requerer legitimamente esta nova cidadania? Quem teve o papel do Rei Salomão e cortou a criança ao meio?

Eis aqui a utilidade de se escrever e transmitir às gerações que nasceram depois de 75 a forma como tudo se passou. Eu posso apenas depreender, interrogar-me, e interrogar os meus familiares que viveram este período, mas a História de Angola necessita de mais fontes documentadas, idóneas, multiplas e concordantes, e isto enquanto muitos dos protagonistas dessa transição estão ainda em vida. Da História de Angola, dos reinos pré-existentes à chegada dos colonos ao estabelecimento de fronteiras "artificiais" que respondiam a interesses geo-políticos dos europeus e não às verdadeiras fronteiras entre os diferentes reinos, povos e culturas, daí e somente daí pode nascer a noção de Identidade Nacional; da plena consciencia de todos os fenómenos que influenciaram a criação do nosso País. Um Cabindense terá certamente uma cultura mais próxima da cultura dos Congos do que da dum Namibense, que se identificará mais facilmente com os hábitos, costumes e línguas dos povos do norte da Namíbia. Mas o Cabindense e o Namibense são Angolanos. A minha filha, de mãe Francesa, que vive em França e (ainda) não conhece Angola, é Angolana. Negar-se a angolanidade dela, seria negar o elo que a liga a mim.

Ser angolano transcende uma simples questão de etnia, de cor de pele, de elo geográfico; ser angolano é ter uma história, uma raíz íntima e legitimamente ligada àquele País; ser Angolano é conhecer a realidade do País, as dificuldades que nele se vivem, mesmo não estando lá a viver; ser Angolano é ter amor àquele chão, àqueles rios, àquele mar, àquele povo; ser Angolano é levar a vida sempre que possível "na desportiva", malembe malembe, porque se resolveste um problema hoje, amanhã outros virão; ser Angolano é ter alegria no coração, que bate ao ritmo do semba dos nossos anciãos; ser Angolano é ser consciente do sofrimento passado, mas também e sobretudo do potencial presente e futuro, e fazer o seu possível, cada um ao seu nível, por que este não seja desperdiçado; ser Angolano é querer deixar uma Angola próspera, pacífica, limpa, organizada e livre para os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos; ser Angolano não é ser arrogante, mas orgulhoso do nosso percurso, que apesar de todos os problemas, das curvas e contracurvas, é e tem que continuar a ser ascendente; ser Agolano é, para mim, amar Angola, o suficiente para fazer ouvir a sua voz, criticar na esperança de melhorar, não denegrir; ser Angolano é meter mãos à obra para transformar este milhão duzentos e quarenta e seis mil e sete centos kilómetros quadrados no País mais bonito do mundo. SER ANGOLANO É AMAR ANGOLA. Mas amar requer também ser exigente em relação ao que se ama. Ser exigente com Angola, quando se é Angolano, é antes de tudo ser-se exigente consigo próprio. Ser Angolano é complicado...!

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire