jeudi 5 septembre 2013

O (Tardio) Despertar Do Continente Africano



Sou angolano e amante de basquetebol. Por esta razão, os sucessos sucessivos da selecção nacional masculina foram, para mim como para milhões de angolanos, a árvore que esconde a floresta. Os títulos continentais foram vividos com imensa alegria e orgulho por Angola e o conjunto dos países lusófonos, mas a verdade crua e nua é bem mais aterradora do que gostaríamos: o basquete africano está mal. Alguns me dirão que exagero, tendo em conta uma série de condições que, evidentemente, influenciam a capacidade de cada Federação e equipa nacional a profissionalizar-se.


Não obstante qualquer argumento do género, o basquete africano ainda está muito balbuciante, quando teve tempo, oportunidade e momento para se tornar adulto, e assumir a sua inevitável ascensão para o concerto das nações, da mesma forma que já acontece com o futebol.
Tomemos como exemplo a selecção de Angola, a mais emblemática de África durante o último quarto de século. Desde 1989, data da sua primeira vitória no Afrobasket, os Palancas venceram 11 dos 13 campeonatos continentais em que participaram. Sucederam-se gerações de jogadores que fizeram por aplicar a filosofia instaurada ainda nos anos 80 por Vitorino Cunha, então treinador da selecção. Este compreendeu desde cedo que, com jogadores regra geral mais pequenos do que os adversários, Angola devia concentrar os seus esforços numa defesa agressiva e solidária, construindo os seus ataques a partir desta base sólida. Com a aplicação rigorosa deste princípio, e a aparição de alguns talentos individuais notáveis como Jean-Jacques da Conceição, Miguel Lutonda, Joaquim “Kikas” Gomes ou Carlos Morais, o resultado foi visível: 11 títulos continentais, 6 participações aos Mundiais, e 5 aos Jogos Olímpicos. 


 Porém, à medida que o tempo passou, notou-se na melhor equipa africana dos últimos anos (e a fortiori nas suas congéneres) uma dificuldade a ultrapassar um patamar a nível internacional. A melhor qualificação recente de uma equipa africana foi o décimo lugar obtido por Angola no Mundial de 2006 (se não contarmos o 5º lugar do Egipto em 1950, num formato de torneio a 10 equipas); Chegados aos 8º de Final, os Palancas foram derrotados por uma equipa de França que estava ao seu alcance, e com a qual fizeram jogo igual até aos últimos minutos do último quarto, inclinando-se 68-62 num jogo que provocou taquicardia a muitos adeptos, angolanos e franceses… Desconcentração nos minutos derradeiros, acumulação de jogadas individuais para tentar “resolver” o jogo, nervosismo, e finalmente, razões para lamentar que, depois de 15 anos a frequentar regularmente a nata do basquete mundial, se perca um jogo daquela maneira.


Dia 31 de Agosto de 2013, Angola venceu o seu 11º título de campeão africano sénior masculino de basquete. O Resultado final foi 57-40. Além do simples resultado, das vitórias, o que me pareceu mais marcante tanto para Angola como para o conjunto das equipas que vi jogar, foi a ingenuidade táctica. Poucas jogadas pareciam construídas, e nas que o eram, a selecção de lançamentos era amiúde precipitada; a circulação de bola em equipas como Angola é quase obrigatória, mas a Nigéria, que contava com jogadores fisicamente muito potentes, contentou-se de um run-n’-gun que desgastou os adversários mais fracos e morreu diante de adversários melhor organizados. Os lançamentos de três pontos foram usados de maneira abusiva, e mesmo equipas com bons atiradores acabaram os jogos com percentagens aquém das suas reais capacidades.


Tendo isto sido dito, não quero que o leitor fique com a impressão que foi tudo uma catástrofe, e que não existe basquetebol de qualidade em África. Existe E MUITO! Como prova o número crescente de jogadores africanos em clubes europeus e americanos. Alguns deles, como Al Faruq Aminu, Hasheem Thabit, Bismack Biyombo, apesar de terem papéis secundários nas suas equipas NBA, gozam de uma aura positiva nas selecções nacionais, e podem ter um papel importante na transmissão de valores profissionalizantes aos seus colegas. Tal como no futebol, foi preciso haver muitos jogadores africanos a evoluir nos melhores campeonatos europeus para as selecções nacionais beneficiarem dessa experiência e crescerem. No basket, desporto menos publicitado, menos apoiado, envolvendo menos dinheiro em relação ao futebol, este processo está a demorar, mas é quanto a mim inevitável. As federações, os dirigentes desportivos, as equipas técnicas têm que se dar os meios de ser ambiciosos. Mais ambiciosos. Mais do que têm sido até hoje. Para que em breve, se passe de 3 a 6 equipas a participar no Mundial. Para que exista uma verdadeira diversidade, paridade e competitividade no basquete mundial.


( Crédito imagem: "The African Basketball Player", by MrBaid3n. http://www.deviantart.com/art/The-African-Basketball-Player-216638647 )

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