lundi 28 janvier 2013

Selecção, CAN e sacrifícios necessários...



Todo mundo me diz que a minha reacção à eliminação de Angola no CAN é exagerada, desproporcionada.
"Tavas mesmo à espera que ganhássemos, mano?"
Por incrível e ingénuo que pareça, a minha resposta é SIM. Estava à espera de uma, duas, porque não três vitórias de Angola. Se estão qualificados, se as equipas são compostas de onze jogadores contra onze, porquê que temos que nos resignar a entrar para perder, a fazer mera figuração?
Pelos jogos de Angola que vi, tirei algumas ilações, muito pessoais, de um amador e amante do futebol, mero profano com um olho mais ou menos treinado por muitos anos de futebol "televisivo".

  1. a selecção não jogou para a vitória em momento algum. Dos 270 e poucos minutos que disputámos, devemos ter tido 70 bons minutos. Na segunda parte do primeiro jogo contra Marrocos (e não conseguimos marcar), e na primeira parte do último jogo contra Cabo Verde. Apesar da dominação e da vantagem que, se mantida, nos assegurava a qualificação, não fomos capazes de ser solidários até ao fim. Um jogo de futebol dura 90min (+ descontos), não 50min. Parar de jogar a esse momento contra uma equipa motivada, organizada e mobilizada é sentença de morte. E pra quem viu o jogo, isto só não acabou 3-1 por muita sorte à mistura;
  2. a selecção REAGIU em vez de AGIR, mostrando alguma vontade e capacidade aquando do último jogo, em que, mesmo se ganhasse, estava dependente do resultado do outro jogo do grupo. Agora eu pergunto-me: será que era mesmo necessário esperar tanto tempo para ACORDAR??? Mais uma vez digo e repito, apesar de dolorosa, não há qualquer vergonha na derrota, desde que justa, e desde que se tenha o sentimento que se fez tudo para a contrariar. Não que as derrotas angolanas tenham sido injustas, longe disso. Mas ficou a certeza de que os jogadores não deram tudo. Essa certeza tive-a quando vi a primeira parte do jogo contra Cabo Verde. Se tivessem pressionado daquela maneira desde o primeiro minuto do primeiro jogo, se os laterais tivessem defendido e criado perigo em contra-ataque nos dois primeiros jogos como fizeram naqueles 45 minutos, então Angola teria abordado o terceiro jogo com outras contas, com outras possibilidades... É o síndroma do estudante que deixa as revisões para a véspera do exame, depois passa uma noite em claro a tentar integrar a matéria toda. Estamos a falar de profissionais, de jogadores que são pagos para jogar futebol, de jogadores que carregam a Palanca ao peito. 

O Embaixador de Angola em Portugal disse há tempos que "todos os angolanos devem ser Embaixadores de Angola no mundo". Todos nós temos a responsabilidade de ser o melhor que podemos, de dar a melhor imagem possível das nossas capacidades e competências. Mais ainda o deve fazer mais e melhor quem carrega o emblema nacional no peito, sob o olhar do mundo. Não foi o que aconteceu neste CAN. Muito me perdoem os visados, mas EU não tive a impressão de ser dignamente representado por aqueles jogadores. 



Angola atravessou muitas adversidades, guerra, falta de tudo e mais alguma coisa, e mesmo assim, mostrámos durante décadas uma postura íntegra em alguns sectores do desporto, e com poucos ou nenhuns meios, transformámos pequenas vitórias em grandes conquistas. Hoje, com mais desafogo, com melhorias constantes de condições para a prática e enquadramento do desporto no País, esperava-se uma profissionalização a todos os níveis, e um grau de exigência muito maior comparativamente ao período de guerra. Ora temos constatado um declínio até em disciplinas onde apesar de tudo brilhávamos. O verão passado foi pesaroso para mim, amante de basket, não ver a nossa selecção senior masculina nos Jogos Olímpicos de Londres; depois do esforço que foi a qualificação para o Mundial de Futebol de 2006 (quatro anos depois da obtenção da paz), sonhei que nos içaríamos com mais regularidade até ao topo das quadras Continentais, e disputaríamos o primeiro Mundial africano... Também não aconteceu... É algo frustrante saber que o investimento financeiro é crescente, os meios são cada vez mais acessíveis,  e o desempenho declina a olhos vistos...


Eu não exijo que Angola esteja sempre presente, nem seja campeã a cada edição; apenas que haja mais ambição, mais perseverança, mais construção a longo prazo, que haja um PROJECTO que não se resuma a encher bolsos e promover compadres para cargos de chefia que dão acesso a regalias (viagens, valores, patrocínios, etc). O desporto hoje em dia é extremamente profissionalizado, temos que ter consciência disso, e adaptar as nossas instâncias dirigentes e estruturas de enquadramento se quisermos algum dia brilhar na cena desportiva internacional. Mas acima de tudo, Federação, equipa técnica, jogadores, adeptos, todos temos que ter a obsessão da vitória, a vontade de sacrifício e solidariedade, como os 300 espartanos que seguiram Leonidas para uma morte certa nas Termópilas. Todos eles pereceram, mas não sem terem dado até à última gota de suor e de sangue. E foi o sacrifício destes 300 que deu tempo ao mundo Grego de se organizar e posteriormente impedir a invasão Persa. 


Precisamos de um Leonidas, de um líder incontestável, ouvido, respeitado e com um projecto, com uma visão a longo prazo. Precisamos do apoio incondicional dos "Sábios" da Federação, que devem ser pessoas do mundo do desporto, que compreendam os desafios por dentro e por fora. Temos que compreender que sacrifícios terão de ser consentidos para preparar o desporto angolano de amanhã. Que rolem as cabeças inertes, que oferecem resistência a uma real evolução do nosso desporto. E acima de tudo, precisamos de guerreiros. Conscientes da sua missão. Prontos a perecer sem qualquer hesitação. Pelo emblema. Pela bandeira. Pela Nação.

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