Angola está em pleno progresso, em plena expansão, em pleno desenvolvimento e abertura. Angola, este país jovem e dinâmico, em breve pouco ou nada terá a invejar aos demais países desenvolvidos. As nossas metas são ambiciosas, e para tal, muito trabalho é necessário. Com os anos de guerra, Angola exportou, para além do petróleo e do diamante, o que ela tem de mais precioso: o seu povo. Espalhámo-nos pelo mundo afora à procura de melhores oportunidades de vida, de melhor formação, para no momento devido darmos o nosso contributo. Essa hora chegou, e agora, e desde já alguns anos, um grande movimento de volta à terra dos nossos compatriotas tem sido constatado. Voltar pra trabalhar, voltar pra progredir, voltar pra enriquecer o País de tudo o que de melhor aprendemos, desde que se adapte à nossa realidade. Viver muito tempo no estrangeiro não é sem consequencias. Quando voltamos, trazemos connosco uma bagagem de vivência diferente daquela que tivemos em Angola, e da que teríamos tido se nunca tivessemos saído.
Diga-se o que se quiser, a nossa sociedade é ainda bastante conservadora, logo certos hábitos importados de fora não são sempre bem vistos. As gerações dos nossos pais e avós vêem com alguma reticência e cepticismo a facilidade com que se adoptam "modas" em Angola. Um exemplo - entre mil - é a influência das novelas brasileiras. Quando deu a novela "Caminho das Índias", não havia um casamento, uma festa falada em que o tema não fosse a Índia, ou onde não se visse pelo menos um sari (ou tentativa de), onde não se dançasse ao som dos ritmos hindus... Como dizem os Kalibrados, "vemos outras culturas e esquecemo-nos da nossa!" E nem vamos falar de outras modas que chocam com a moral e os bons costumes, como o comportamento de certa "representante" nossa num reality show continental...
Pois é... Um dos aspectos mais melindrosos desta "evolução" das mentalidades em Angola é a forma como o sexo é abordado, encarado publicamente. Sejamos realistas: desde que eu me conheço como gente, o sexo é omnipresente em Angola. Mas não da mesma forma que na Europa. Ao passo que eu cresci a ouvir "ela é boa como o milho" a tocar na rádio sem que fosse algo chocante, pelo contrário, é apenas retratar de forma engraçada uma realidade que se vivia ao quotidiano, na Europa conheci uma abordagem muito mais recalcada e menos sã das "coisas carnais". A principal diferença com a Angolana é que na Europa, a educação judeo cristã associa sexo a culpabilidade, a descoberta do corpo é uma transgressão e não uma etapa natural. E é certo e sabido que um terreno de interditos é o masi fértil para perversões e desvios de toda a espécie. A diferença pode parecer ínfima, tanto a nossa sociedade tem influência da cultura da ex-metrópole, e é, como já referi mais acima, bastante conservadora. Mas foi impressionante eu descobrir que, na Europa, quando começa a fazer bom tempo, as meninas põe mini saia e as hormonas dos meninos parece q acordam duma hibernação (frustração?) prolongada e provocam reacções descomunais. Em Angola nunca tive a impressão que se passasse dessa forma (talvez porque as mini saias eram usadas ao longo de todo o ano, não apenas 2 meses sobre 12!). Na Europa, quando eu cheguei há 15 anos atrás, os adolescentes eram muito mais infantis do que os angolanos. Os mwangolés desde os 13 anos eram sedutores, à procura da maneira de impressionar as damas, enquanto os rapazes europeus, em vez de xaxar, arranjavam briguinhas com as meninas como pretexto para criar aproximação e contacto físico... Quando vos falo de sexualidade recalcada! O grande pardoxo é que nesta sociedade ocidental, o sexo está omnipresente em revistas, publicidades, filmes, séries, sex shops, casas de strip tease... Como para compensar a maneira pouco aberta e natural como eles o vivem. Paliativos a uma sexualidade verdadeiramente radiante. Pra resumir, cito o Ice Cube, rapper americano que diz numa música: "white boys got the magazine but don't know how to act..."
Ora, ao importarmos certas coisas que existem na Europa, corremos o risco de importar também problemas que não existiam ou eram geridos de maneira diferente. Um exemplo disso é a abertura dentro em breve de uma nova publicação mensal: Playboy Angola! Em si, não tem nada de mal. Com a abertura das mentalidades, somos hoje capazes de encarar com naturalidade e apreciar a beleza de uma mulher nua numa revista sem a catalogar de "mulher de má vida"... Será que somos? Em Angola? Uma coisa é posar todos os meses uma figura pública, uma cantora, uma vedeta da televisão, etc. Mas quando se tratar de uma anónima, de uma prima, de uma irmã, de uma vizinha, de uma colega de trabalho?
Sejamos honestos: em Angola a abordagem do sexo mudou desde a minha adolescência, mas no fundo as mentalidades não. Hoje ouve-se de tudo, faz-se de tudo, as histórias mais loucas decorrem entre quatro paredes e viram assunto de fofoca:
" A fulana é amante do sicrano. Achas que aquele carro quem lhe deu!?";
"O primo quem? anda em altos movies com uma quatorzinha, filha do compadre dele!";
"Aquele? granda chulo! só anda com damas mais velhas, só os griffes que as kotas lhe giram!!!"; "Coitada da fulana... o namorado tirou-lhe fotografia em pleno acto depois lhe estendeu quando ela acabou com ele. Mas tambem bem feita, bandida, tira fotos nessas poses porquê???";
"O madié quem lhe apanharam a papar a amante numero 2 do muata quem, teve que fugir de cuecas pra num lhe bondarem, e quando chegou ao cubico estava a dama dele em altos filmes com o sobrinho da vizinha"...
Tudo isso acontece, às vezes amplificado, às vezes minimizado, mas acontece. Todo mundo fala mas finge que não sabe. Não sei se a corrupção moral está maior ou se foi só o nível de exposição dessas histórias que aumentou. No tempo dos nossos avós também surgiam bué de filhos à esquerda e à direita, uns com a filha da vizinha, outros com a empreggada... Mas esses assuntos só vinham à tona quando justamente houvesse casos de filhos. Assumia-se (ou não) o barulho, e deixava-se de falar nisso. Hoje não. Tornou-se jogo estender as filhas alheias, brincar com o sexo como se algo de indiferente fosse... Mas a sociedade não perde a postura pública de CONDENAR tais comportamentos...
Nesse contexto, Playboy Angola. O que é a Playboy? Uma revista masculina, que fala com um tom humorístico e décalé das "verdadeiras necessidades do homem moderno e com um certo nível". Lifestyle, política, viagens, moda e sexo. Mulheres nuas. Celebridades E anónimas. De onde virão essas meninas que serão expostas como vieram ao mundo? De Angola? quais as eventuais repercussões de tal acto na vida social delas, qual o olhar das famílias, amigos, colegas de trabalho quando a virem em poses sensuais numa revista? Não será ela catalogada? Criticada? Considerada "bandida"? A própria Playboy, quando surgiu nos Estados Unidos, teve que lutar durante ANOS contra o preconceito dos moralistas, para fazer aceitar que aquilo não era pornografia, que o corpo de uma mulher é a coisa mais natural e linda de se ver, e que tais fotos não pressupõem má vida ou tendência pra leviandade. Isto há 57 anos atrás. Apesar do prafrentex supostamente vivido hoje em Angola, o macaco continua muito atento ao rabo do outro. Em Portugal, uma professora primária posou nua (foto), foi despromovida e tirada imediatamente do contacto com as crianças. Boa sorte pra fazerem aceitar isso às famílias bem pensantes de Angola.
(mas vendo bem, se o Sexolandia passou, o resto também há de passar...)